Quem sou eu?


Você pode achar que eu sou só uma vadia egocêntrica, mas não me conhece.
Hoje estou vestindo uma linda roupa; calça cor de mostarda, camisa azul com desenhos de pássaros brancos. Meus pés estão encobertos por meias de algodão dentro de um sapato de edição limitada da New Balance. Mas isso é só o que você pode enxergar.
Por baixo destas linhas infindas de tecido, há uma pele. Por baixo desta pele, existem outras finas películas de um ser que não pode ser visto.
Por baixo destas vestes, existe um corpo exausto, cansado de ser mirado como um alvo a ser acertado.
Tudo que é visto se resume em apenas nádegas, músculos rígidos e lugares para serem preenchidos.
Tudo que meus pés devidamente calçados querem é continuar andando.
Mas todos os dias eu me pergunto quantos passos sou capaz de andar sem me perder nessas ruas sem saída antes de desistir.

Sobre a minha pele, estão marcados desenhos indeléveis, mas é sob ela que as marcas queimam.
Como um bebê pássaro, eu tento voar em direção a claridade desesperadamente em busca de uma saída, mas os vidros das janelas estão fechados; em cada voo, choco-me contra a fibra sólida que veda o vento. A luz que entra pelos vidros é branca, ainda é cedo e o Sol se escondeu atrás das nuvens. Como um filhote de pardal, tento voar, mas então eu me lembro que não tenho asas, somente pés.
Então fico girando em círculos ao redor de mim mesmo, me encontrando e me perdendo dentro dessa mesma casca.

Depois de tanto andar, ver uma árvore e reconhecê-la é gratificante. Mas quando se está perdido dentro de si mesmo, as milhas são tão distantes que nem mesmo os campos de trigo seco dos meus sonhos lúcidos podem ser encontrados; anda-se incansavelmente até que não haja mais um poste de luz que possa ser familiar. Então, se não há um ponto comum, continua-se a caminhar, até que em algum momento apareça algo que possa ser reconhecido - mas se não há, segue-se a diante e perde-se cada vez mais nesse oceano azul escuro que existe a baixo de cada camada desse eu, mas ninguém vê.

Olham para mim, mas os olhares se desviam para o ar ao meu redor. Ninguém me encara.
Eu falo, mas ninguém me ouve. Sei que estou certo, mas parece que as palavras que saem da minha boca não têm som.
Com todas as palavras eu grito, mas os sons são abafados e ninguém me escuta.
Eu grito até que as minhas cordas vocais se enfraqueçam e então decido ficar quieto, enquanto por baixo há uma atmosfera frenética onde todas as vozes se encontram num mesmo momento de forma que nada pode ser decifrado. O estrondo é pesado, como se um helicóptero pousasse dentro da minha cabeça, mas por fora folhas e flores caem secas e leves tocando a grama com a naturalidade de um outono tranquilo.

Lá fora, toda a vida continua da forma como costumeiramente parece ser. As sementes das árvores soltam-se dos galhos e frutificam os solos.
O ar poluído torna-se cada dia mais sujo e à medida que respiramos nos contaminamos pouco a pouco sem que seja perceptível, mas o corpo sente.
Destruímos nossa casa a cada copo de cerveja que bebemos e a cigarro que fumamos, mas nos tornamos tolerantes.
Os gases inflamam nossas narinas donde surgem pústulas que sugamos para dentro. Fede, mas nos adaptamos.
Acostumamos com toda a podridão, vivemos nos esgotos como ratos, mas ainda sim, somos capazes de sorrir.

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